quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Olhar inocente



Ao contrário dos outros posts, esse não será poético, não será indireto. Será direto.

Que temos olhos viciados não é novidade. Que a criança tem um olhar novo para tudo e todos também não. A criança está descobrindo o mundo, a cidade, as pessoas, o viver... tudo!

Nós, com os olhos viciados passamos pelas pessoas na rua, não as vemos, não ligamos...

Um dia uma garotinha andando toda sorridente puxa a blusa da mãe e pergunta "por que este homem está sentando no chão? Por que este homem está passando frio? Por que ele não sorri mãe?"

A mãe simplesmente olhou, viu que era um mendigo, saiu puxando a filha e disse "não é ninguém!"

Como assim não é ninguém?? Ele não é um ser humano? Ele não é como você?

E assim viciamos mais um olhar puro a algo novo. Aquela garota que está descobrindo um mundo novo descobriu a pobreza. Não gostou, questionou, mas os adultos, detentores de todo saber simplesmente reduzem a uma palavra "ninguém".

A garotinha não se deu por satisfeita. Ficou olhando, virava a cabeça para entender aquilo. Por que ele está no chão? Por que ele passa frio? Por que? Por que?

Agradeço por ter crianças com o olhar puro da descoberta para assim nos mostar que não, isso não é normal.

E ainda vem a pior parte. Quem é pior, a mãe que disse "não é ninguém" ou eu, que passei reto mesmo a criança tendo me mostrado que estou com o olhar viciado... espero encontrar com a garota, para que ela possa me ensinar a ver, enxegar e questionar.

domingo, 30 de maio de 2010

Ela Chega

Desembarca no aeroporto. Começa a sentir frio. Fica com saudades, mas o sono provocado pelo fuso horário é maior. Pisca, pesca. É a sua vez na imigração. Perguntas, passaporte, carta, visto, perguntas, passaporte, passaporte, perguntas. Cara feia. Sorriso. Cara feia. Pergunta, passaporte. Liberada.

Pega mala, scaneia mala, sorriso, sono. Sai. Frio. Vento. Medo. Pessoas, algumas estranhas e outras com cara de amigáveis. Ela tenta se encontrar. Procura pessoas, conhecidas, carros, vozes. O tempo passa. Fica impaciente. O tempo continua a passar. Passa. A manhã vira tarde que se torna noite. Ela resolve pegar um táxi. Hotel. Novamente procura rostos, vozes, alguma coisa ou alguém. Ninguém. Sono. Janta. Frio. Mal humor. Quarto. Solidão. Sono. Cama. Dorme.

No dia seguinte, acorda com frio, mas ao ver a linda paisagem janela do hotel a fora seu humor muda. Lindo. Magnífico. Fome. Desce. Café da manhã. Come. Procura vozes, rostos, alguma coisa, alguém em comum. Nada. Nada...

Anda. Passeia. Anda. Lindo. Frio. Sorriso contido. Sono. Fome. Solidão. Volta ao hotel. Nada nem ninguém. Mal humor. Dorme. Janta. Toma banho. Dorme.

Acorda. Nada. Solidão... solidão.

Sai. Anda. Passeia e... não, não está sozinha. Sente-se confortavel. Amada, como se alguém a quisesse bem. Sorri. Come. Sorri. Corre. Anda. Senta. Anda em círculos. Olha para o céu. Aquela sensação claustrofobica, de solidão não existe mais.

Tudo passa... Sorri. Não é mais apenas uma, mas sim alguém. A nova cidade que até então lhe assustara agora é sua melhor amiga...

Tudo passa...

Volta ao hotel. Janta. Toma banho. Olha pela janela. Se despede. É uma pena, no dia que finalmente se sente em casa é seu último dia naquele lugar desconhecido.

Solidão. Saudades, mas agora é do que estava vivendo, e não do que já passou...



segunda-feira, 10 de maio de 2010

TearDrop


Ela quer sonhar.
Ele não quer deixar-la voar.
Ela quer ter.
Ele respira.

Ela quer juras.
Ele o silêncio.
Ela fala.
Ele ouve.

Ela promete.
Ele fala.
Ela exige que ele prometa.
Ele diz que não pode.

Ela quer se iludir.
Ele não quer vê-la machucada.
Ela tenta achar a solução.
Ele foge.

Eles sabem que é tudo um sonho.
Uma ilusão.
Ela não acredita, mas gostaria poder.
Ele não se ilude, mas gostaria poder.

Ela respira.
Ele diz: “maybe”.




quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Rotina



ELA
Odeio rotina!

ELE
Também...

ELA
É tão enfadonho!

ELE
(olhando para a TV)
É...

ELA
É tão previsivel, jornal as 20h, novela as 21h20...

ELE
É..

ELA
Rotina, hunf...

ELE
É...

ELA
(olhando fixamente para ele, com raiva, gritando)
É o que? O que?

ELE
(virando-se para ela, voz serena mas firme)
...por mais que você diga que odeia a rotina,
é impossível conseguir viver sem o mínimo dela...
É um mal necessário, um mal sem com o qual
você não conseguiria viver...
O mesmo trabalho, o mesmo salário, as mesmas pessoas,
o mesmo horário e almoço, o mesmo homem ao seu lado na cama,
o mesmo tudo...

Pausa

ELE
(virando-se para a TV)
Se você for reparar bem, sua vida é massante,
é uma interminavel rotina...

Pausa

ELA
(pensativa)
É, odeio mudanças!






domingo, 8 de novembro de 2009

Desconexos



Os desconexos entre os pensamentos...
entre as pessoas...
entre as respirações...
entre os movimentos...
entre você... dentro de você!
... e um pouco em mim...

Os desconexos entre o mundo...
entre as ações...
entre os desejos...
entre os sonhos...
entre eu mesma... dentro de mim!
... e um pouco em você...


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Diálogo Online


Pessoa 1 – Estou angustiada.

Pessoa 2 – A minha passou

Pessoa 1 – Que bom.

Pessoa 2 – Com o que?

Pessoa 1 – Não sei...

Pessoa 2 – Estou com sono...

Pessoa 1 – Acho que com a relação humana...

Pessoa 2 – fome. Quero comer um lanche!

Pessoa 1 – a forma como nos tratam...

Pessoa 2 – E como tratamos os outros?

Pessoa 1 – Também.

Pessoa 2 – Estava por causa dele...

Pessoa 1 – Mas sempre passa não?

Pessoa 2 – Ele me traiu...

Pessoa 1 – Concordo com você, um bauru iria bem.

Pessoa 2 – O pior é que foi com ela... com a única pessoa que eu pedi para que não fizesse isso.

Pessoa 1 – Angústia

Pessoa 2 – Uma hora passa.

Pessoa 1 – Ele ira receber o que merece...

Pessoa 2 – Sono!

Pessoa 1 – Uma hora ou outra tudo isso volta.

Pessoa 2 – O que as pessoas te fizeram?

Pessoa 1 – Hmmmm...

Pessoa 2 – Com a vida?

Pessoa 1 – Provável.

Pessoa 2 – Sede!

Pessoa 1 – E ele, você vai romper?

Pessoa 2 – Angustia é uma merda não?!

Pessoa 1 – Gostaria de amar...

Pessoa 2 – Odeio odiar, odeio amar, odeio a angustia!

Pessoa 1 – Será que algum dia alguém me amara?

Pessoa 2 – Sono!

Pessoa 1 – Angústia!

Pessoa 2 – Vou dormir! Amanhã será um longo dia...

Pessoa 1 – Dá um nó na garganta...

Pessoa 2 – Odeio ele!

Pessoa 1 – Vá dormir!

Pessoa 2 – Boa noite! ... Melhor?

Pessoa 1 – Algum dia estarei... espero...

Ainda está ai?

Sorte amanhã caso você veja essa mensagem antes....

Boa noite!

Ainda estou angustiada...

Nó na garganta....

Te amo sabia?

Mas você não está mais aqui....

Sorte! caso você veja antes de ir... sorte....

Ainda estou angustiada...



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

... Pertencer, Ser ...


As vezes o questionamento do por que a dificuldade de respirar, o por que dessa dor é o maior de todos. Não nos entendemos. Seres ínfimos e sem consistência que somos. Seres efêmeros e ocos. Seres egoístas e sem sentimentos verdadeiros. Por que nos preocupar? Por que fingir que nos preocupamos?

Você não sente vergonha de ser o que é? Não sente vergonha de ser “humano”. E, somos verdadeiramente humanos? Somos o que afinal? Para que tudo isso? Para que a vergonha?

Quero gritar!

“Mãe, posso gritar?”

Quero tudo e todos. Quero ser perfeita. Acima de tudo quero que todos sejam perfeitos. Quero sumir! Quero aparecer!

Quero poder pincelar minha própria vida.

Por que a sociedade? Por que a convivência? Por que não o isolamento? Isolamento... isolamento psicológico, isolamento físico. Vivo agora o pior deles, o isolamento psicológico provocado pelo físico.

Quero a desgraça, mas quero sorrir um sorriso verdadeiro.

Quero tudo e a todos. Todos.

Quero antes de tudo pertencer a esse mundo, fazer parte.

Pertencer, ser.

E nunca mais ser esse ser dualista que vos fala...